domingo, 30 de janeiro de 2011

Marx: Valor, Trabalho e Classe Social

“O capital é a força que tudo domina na sociedade burguesa”

Na extensa obra de Karl Marx é possível identificar muitos conceitos a cerca de um mesmo tema. Valor não é simplesmente valor: pode ser valor de uso, valor de troca. Trabalho não tem fórmula exata: o resultado pode ser trabalho produtivo, trabalho improdutivo, trabalho abstrato, trabalho manual, trabalho intelectual. Em cada categoria é possível, ainda, passar por análises conjunturais que traça uma dinâmica ainda maior na conceituação de cada uma. Mesmo com toda a complexidade das idéias de Marx, é possível encontrar um ponto de partida que nos leve a um entendimento geral sobre o funcionamento de alguns dos seus principais conceitos. Encontra-se um fio condutor que entrelaça e interliga-os.
Quando se estuda o conceito de valor, automaticamente somos conduzidos a pensar sobre o trabalho. Concluindo que o valor e o mais valor é extraído da exploração do trabalho assalariado, chega-se à divisão entre dois grupos de pessoas: àqueles que ficam com os lucros advindos do mais valor e àqueles que são explorados. Uma trama que, claramente, guarda muitos nós. É o desembaraçar desses nós que tornam as análises marxistas tão complexas e avançadas.
 A partir das idéias iniciadas por David Ricardo sobre o valor (materialismo histórico), Marx saiu da superfície e buscou a essência do que, de fato, o valor representava. O que, inicialmente era uma análise econômica, encontrou em Marx, explicações sociais. Assim sendo, o próprio valor é uma relação social, como cita Marx em seus estudos econômicos. Isso porque o valor encontra na relação de trabalho (como valor de troca – salário), seu fundamento, que é também refletido no funcionamento das relações sociais.
Quando o trabalho para a transformação material tem sua finalidade de produção de valor de uso, ele não entra no ciclo do capital. No entanto, quando vendemos nossa força de trabalho, processo pelo qual nos alienamos do que produzimos, justificamos a existência do valor de troca, da exploração da nossa mão de obra com fim de produzir mais em um curto espaço de tempo, gerando mais valor. O próprio valor é capaz de informar a historicidade da sociedade, uma vez que o maquinário utilizado no processo de produção, assim como a divisão do trabalho, são capazes de refletir como a força de trabalho foi explorada ao longo do tempo (traduzindo as relações sociais presentes em cada momento da história). Ou seja, o valor é uma síntese de múltiplas determinações, que, certamente, fogem do economicismo presente nos cientistas econômicos da época.
Dentro de todo esse contexto de trabalho e valor, a sociedade reflete a relação entre coisas e dinheiro. Reflete a divisão histórica entre segmentos de pessoas que têm interesses opostos: são as classes sociais. Essas classes se formaram de maneira diferente ao longo da história, mas, independente dos nomes que receberam, as oposições de interesses entre elas sempre causaram uma divisão explícita: entre opressores e oprimidos. O choque entre esses interesses é o que movimenta a sociedade. Para identificar a existência de uma classe em um determinado período histórico, é preciso que se estude a estrutura social atrelada à conjuntura. A classe vai depender de como as forças hegemônicas se apresentarão.
No desenvolvimento do pensamento marxista, o conceito de classes passou por diferentes determinações conceituais, mas, independente disso, o que sempre esteve claro foi que a classe não é um conjunto de indivíduos. Ela é definida pelo conjunto das relações determinadas pela história. Ora, se para Marx, as relações são pensadas a partir das próprias relações de trabalho, significa dizer que o a condição do explorado é antagônica ao do proprietário dos meios de produção, constituindo, assim, a burguesia e o operariado. Daí fundamenta-se a tese do jovem Marx de que o choque entre as classes no sistema capitalista partiria dos operários, o que rumaria a um projeto muito maior, de revolução na estrutura social.
Todos esses conceitos desembaraçados por Marx conduz a uma lógica que imbrica valor, trabalho e classe, de forma a apresentar uma realidade desmascarada.

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