quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre o Aboio

“Foi quando se escutou um grito que subia, um grito sobre-humano, agudíssimo, claro, tão nítido, que feria, tão forte que dominou a voz dos bois”
(Mário de Andrade)

A comunicação entre o homem sertanejo e seu rebanho. Assim pode ser definido o aboio, espécie de canto de trabalho entoado até hoje no sertão brasileiro. São melodiosos lamentos que carregam versos contendo a alma da vida sertaneja. A cadência lenta dos cantos é uma adaptação do andar vagaroso dos animais durante o pasto.
O aboio se divide em duas principais categorias, podendo ser um canto entoado sem palavras ou em versos enquanto o vaqueiro tange a boiada.
A origem do aboio em versos é moura, tendo vindo ao Brasil, provavelmente da Ilha da Madeira, segundo estudos do folclorista Luís da Câmara Cascudo. No entanto, a origem do nome aboio, segundo Cascudo, é brasileira, tendo sido incorporada pelos portugueses, já que em Portugal, aboioar significada colocar uma bóia em alguma coisa.
Os aboios sem versos, servem também para orientar os companheiros que se dispersam durante as pegas de gado. É comum, nessa modalidade, que o vaqueiro termine sua toada com algumas frases declamadas, sempre com temáticas relacionadas ao seu rebanho como, por exemplo, “ei, boi, ei, boizinho, eh, gado manso”.
Nos aboios versados pode-se observar grande sentido poético do vaqueiro, que tem seu rebanho não só como parte de seu trabalho, mas também como uma forma de relação familiar. Muitos aboios falam sobre a vida sofrida do sertão, e sobre uma relação íntima de amizade com o rebanho. É no momento da declamação, ou seja, do aboio, que esses versos ganham todo o sentido dramático e melódico, tornando o aboio uma espécie de desabafo, uma linguagem especial entre o homem e o animal. É para o seu rebanho que o vaqueiro entoa sua poesia.

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